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A questão da vida e da morte é a mais importante de todas e o tempo passa rapidamente.
Não desperdice sua vida em vão
(Dogen Séc. XIII)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Zazen - Simplesmente desperte.

(Grace Schrireson – Revista Shambala Sun / Setembro 2010, adaptado por Fátima Marçal)

Quando uma idéia surgir, simplesmente desperte.
Sentar em zazen é o abrir o portal do dharma para o bem estar e a tranquilidade.
 (Dogen Zerji, Fukan Zazengi)

Meditação sentada, chamada zazen na tradição Zen, é descrita como simplesmente despertar – despertar para a realidade íntima, dentro da qual estivemos sonhando nossas vidas. A prática do zazen harmoniza corpo, respiração e mente. Postura corporal, respiração e atividade mental se tornam nossas companhias de maior intimidade.

O método se inicia por nos sentarmos com a espinha ereta, conscientes de nossa respiração, que entra macia em nossa barriga. Contamos cada respiração de 1 a 10, ao soltar o ar. Este método simples estabelece a diciplina básica para observarmos aquilo que realmente é.

Zazen aumenta a concentração, ao nos proporcionar intimidade com nossa própria mente. Começamos a ver a nós mesmos com mais clareza e a desenvolver tolerância para continuar a ver e a aceitar aquilo que encontrarmos.  Ao observar o trabalho de nossa mente, nós nos conectamos com a origem de nossa vida.

No início nossa mente irá vagar. Porém, na medida em que vamos nos acomodando na meditação, descobrimos que estamos realmente ali presentes, que não estamos em nenhum outro lugar.  Na meditação descobrimos que estamos sempre presentes, em um espaço ao mesmo tempo íntimo e sem fronteiras. Íntimo porque estamos olhando para nós mesmos e nos enxergando sem filtros. Sem fronteiras, porque experimentamos um sentimento de espaçosidade, ao observarmos o que está surgindo.

É como se nos víssemos refletidos na superfície de um lago, nos tornando cada vez mais íntimos desta consciência que se auto reflete. Passamos a conhecer aquilo que se encontra desperto e a ver refletido aquilo que chamamos de “eu” e de “minha vida”. Vemos nossos pensamentos e sentimentos exatamente como são, sem teor positivo ou negativo. Percebemos nossos anseios e nossa vulnerabilidade. Através da consciência macia da respiração, da mente e da presença física, nossa concentração fica mais forte e começamos a aceitar a visão de nossa vida interior despida diante de nós.

No início é possível que esta visão que surge nos choque. Talvez tenhamos vontade de abandonar aquilo que vemos surgir, dizendo: “De onde vem tanto egoísmo?” ou “Não gosto disto. Isto não sou eu!” Os iniciantes em meditação frequentemente ficam chocados ao ver seus pensamentos e impulsos com tanta clareza e talvez pensem: “Será que sou assim, tão ruim, ou será que a meditação está me piorando?” Não, a meditação não está nos piorarando. Estamos simplesmente vendo com maior clareza o quanto de sofrimento somos capazes de acrescentar  ao nosso próprio sofrimento e ao sofrimento dos outros. A prática regular da meditação nos auxiliará no desenvolvimento de uma disciplina e de uma visão firme, trazendo o apoio necessário para não agirmos sob a influência destes impulsos, quando eles aparecerem.

É necessário ter honestidade e coragem, para observar o surgimento das coisas como elas são. Com a prática contínua da meditação, torna-se mais clara a distinção entre os pensamentos egoístas e aquele que os observa. Como observadores desenvolvemos um olhar mais firme e nossos pensamentos, sentimentos e sensações passam a ser vistos como simples marolas na superfície do lago e não mais como o lago propriamente dito. Adquirimos maior intimidade com a verdadeira natureza desta água. Uma água que se reflete e na qual estamos sempre mergulhados, nadando.

Acima de qualquer outra qualidade, a honestidade é essencial na prática do zazen. Não faz sentido algum enganarmos a nós mesmos, com relação à quantidade de problemas que existem sob a superfície de nossa polidez, de nosso fino verniz de civilização. Quando desenvolvemos estabilidade e intimidade com nossa própria mente suficiente para com ela estarmos presentes, somos capazes de perceber  o quanto precisamos de ajuda.

Outra qualidade necessária para a prática do zazen é a coragem. Coragem para não viramos as costas, independente das dificuldades que surgirem. Independente do quanto as ondas pareçam bravias. Também são necessárias paciência e dedicação, para nos sentarmos período após período, em competição com grande número de outros interesses e acontecimentos simultâneos. Voltar à almofada ou zafu para contar cada expiração de um a dez não possui o glamour de sair com amigos ou ir a lugares interessantes. Por meio de nossa paciência e dedicação, poderemos  adquirir total intimidade com nossa própria consciência e abrir assim o portal do dharma para o bem estar e a tranquilidade.

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